terça-feira, 20 de maio de 2008

Entrevista ao heroi do Jamor

RECORD – Está a viver o melhor momento da sua vida?
RODRIGO TIUÍ – Ah… com certeza! Nunca passei por um momento como este. Estou muito feliz. Já me conformei com os golos e com o facto de ter ajudado a equipa a bater o FC Porto. Agora já estou a pensar na próxima época. Quero ficar aqui e mostrar ainda muito mais para este clube e para esta equipa. Tenho condições para dar mais ao Sporting.

R – O que está a acontecer agora é tudo novo para si?
RT – Sim, é tudo muito novo. Até pela forma como decorreu a festa. No Brasil é bastante diferente. Fui campeão estadual duas vezes [Carioca em 2005 pelo Fluminense e Paulista em 2007 pelo Santos] e não há comparação. A festa que os adeptos prepararam foi muito especial e vou guardá-la para o resto da minha vida. A ela e aos 2 golos que fiz! Vão ficar na minha memória, não vão sair nunca… A menos que na próxima época faça 3 num jogo igual! [risos]

R – Como viveu os momentos depois da conquista da Taça?
RT – Foi emocionante, porque aconteceu tudo muito depressa, depois de sair do banco. Fiz os 2 golos e de repente já acontecia aquela festa. Foi tudo muito rápido e frenético. Demorei algum tempo a digerir o momento. Ontem ainda não acreditava no que estava a viver. Hoje já estou a perceber a importância de um título como a Taça. Nunca tinha vivido algo assim, com esta importância, e isso vê-se não só pela festa mas pelo carinho que todos demonstram quando falam comigo. Agora sei que os 2 golos representaram muito para a equipa e para o Sporting.

R – Tem a noção de que nunca mais será esquecido pelos adeptos do Sporting? Isso deixa-o orgulhoso?
RT – Claro que sim, porque todos os atletas trabalham para entrar na história e para serem recordados. Eu não sou diferente. Sempre quis ser lembrado, e agora estou a passar por este momento e pela ocasião de poder ser recordado por ajudar a dar um título ao Sporting com 2 golos numa final. É daquele tipo de coisas que se guarda para a família, para os filhos e para os netos. Fico feliz porque sei que a minha família ficará orgulhosa por saber que estou na história de um clube em Portugal.

R – Sentiu que, no princípio, havia desconfiança em relação a si?
RT – É claro que sim. Mas qualquer jogador quando chega a uma equipa nova tem sempre de enfrentar alguma desconfiança e a dúvida dos adeptos em saber se vai de facto ajudar a equipa. Quando cheguei ao Sporting, estava a voltar de férias no Brasil e havia uns 40 dias que não me treinava. Até que me adaptasse foi um processo um pouco lento. Agora estou a começar a sentir-me bem e a recuperar a velocidade que sempre tive. Sinto que estou a adaptar-me neste final de época. Fiz 2 jogos bons. Acredito muito em Deus e sei que as coisas não sucedem por acaso. Durante todo o tempo que estive sem fazer golos nunca desisti. Tenho de agradecer a Deus.

R – Como disse, está a começar a adaptar-se e a aparecer. Provavelmente, lamenta que a época não possa ter mais um ou dois meses?
RT – Sim, pela confiança que tenho e que ganhei depois de fazer golos em dois jogos seguidos. Isso é fundamental para um avançado. Senti-lhe o gosto e gostava de poder continuar. Marquei no encontro anterior e neste comecei no banco, mas estava muito ansioso para poder entrar e ajudar a equipa. Quando olhamos para o campo e vemos todos a batalhar, queremos estar lá dentro também. Estava a torcer pelos meus companheiros, mas o míster colocou-me e teve confiança em mim. Agradeço-lhe porque a final representou muito para mim.

R – Sente que ganhou o respeito dos adeptos, com os golos e o título que ajudou a conquistar?
RT – Quando falo em respeito, não tem a ver só comigo. É mais pelo clube, pelo nosso grupo de trabalho, porque fomos muitos contestados. Dizia-se que o Sporting não era boa equipa e que não estávamos bem, mas neste jogo contra o FC Porto, que foi campeão, com alguns pontos de vantagem, soubemos entrar bem e vencer. É claro que ganhando a uma equipa que muitos consideram melhor do que a nossa, estamos a ganhar o respeito e atenção dos nossos adeptos, para que tenham mais tranquilidade e saibam que podemos dar muito.

R – Acredita que pode ter conquistado um lugar no plantel da próxima temporada?
RT – Saíram notícias nas quais se dizia que eu não ia ficar e que fazia parte de uma lista de jogadores que podiam sair. Fiquei muito ansioso por causa disso, porque cheguei a meio da época e não tinha feito golos mas queria ficar porque gostei do clube. Nos últimos 2 jogos corri atrás desse objectivo, de manter-me aqui, dei o meu máximo e consegui, com 2 golos na final e com outro ao Boavista. Agora é esperar. O Sporting é uma equipa grande, que tem bons jogadores e faz boas contratações. Nunca se sabe o dia de amanhã. Por mim, ficaria aqui por mais três anos, até ao final do meu contrato, e se quiserem renovar… Gostei do clube e da equipa, mas não depende só de mim. Tenho de respeitar o lado do Sporting. Se me disserem amanhã que não vão ficar comigo, tenho de respeitar essa opção. Mas a felicidade de estar aqui é imensa e espero que me dêem mais uma oportunidade.

R – Paulo Bento já lhe disse se conta consigo?
RT – Nunca conversei com ele sobre esse assunto. Mas estou a deixar bem claro que eu quero ficar. Não sei se estou nos planos para o ano que vem, gostaria de estar e ficaria muito feliz se soubesse que estava. Se não estiver, tenho de levantar a cabeça, porque somos profissionais.

R – O que lhe pediu Paulo Bento, ontem, quando o lançou em campo?
RT – O FC Porto estava com um jogador a menos e ele pediu-me para jogar mais próximo do Derlei e abrir o Yannick, para que tivéssemos mais facilidade em entrar na área deles. E aconteceu. Conseguimos marcar o primeiro golo e depois, pelo posicionamento que a nossa equipa adoptou, fizemos o segundo num contra-ataque. Tenho de dar os parabéns ao Paulo Bento. Ele foi muito corajoso ao mudar o esquema da equipa à última hora, no prolongamento, e conseguiu a vitória. Ele foi muito importante por essa atitude.

R – Foram os golos mais importantes da sua carreira?
RT – Sim, eu joguei no Brasil… [pausa] Passou-me pela cabeça o filme de toda a minha carreira. Dei por mim a pensar como tudo seria diferente se a época tivesse terminado há duas semanas e estes 2 jogos não tivessem acontecido… Não estaria com este prestígio e com esta felicidade. É engraçado pensar nisso… Mas eu sempre acreditei e agora sei que isto vai ser muito importante para a minha vida.

R – O que lhe passou pela cabeça quando marcou o primeiro golo e viu aquela explosão de alegria nas bancadas?
RT – É difícil dizer… Não tenho palavras para descrever o que senti. Fiquei muito emocionado. Queria correr para os adeptos, mas os meus companheiros agarraram-me e eu fiquei ali com eles. Eu não acreditei quando fiz o primeiro golo e nos vimos a ganhar; quando fiz o segundo, então, pensei que estava a sonhar! Foi algo que me marcou muito. Depois de fazer o segundo golo, fiquei com a cabeça a mil! Pensava em tudo ao mesmo tempo… Fiquei bastante emocionado ainda durante o jogo, mas… valeu!

R – Já tinha feito um golo como o segundo no Jamor? Foi um pontapé de bicicleta ou de moinho?
RT – Foi meio, meio; uma espécie de vólei. Mas nunca tinha feito um golo de bicicleta. Fiz muitos na formação, mas não como profissional. Foi o golo mais bonito da minha carreira. Eu já tinha achado o da semana passada [com o Boavista] o mais bonito, porque acertei na bola de primeira [risos]. Mas agora com este e pela importância que teve…

R – A ausência de Liedson serviu de motivação? Queriam dedicar-lhe o título?
RT – Deu-nos bastante força porque o Liedson é peça fundamental da nossa equipa. É um jogador que tem brio e se identifica bastante com a equipa do Sporting. Num primeiro momento ficámos muito tristes com a impossibilidade de ele jogar, mas isso também nos ajudou a meter a cabeça no sítio e assumir a vontade de dedicar-lhe a vitória, pelo momento difícil que ele estava a passar na carreira, com a operação. Fizemos tudo para ganhar e dar o título a Liedson.

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