domingo, 14 de setembro de 2008

Hélder Postiga em entevista


Desassombrado, sem medo das palavras, frontal, com discurso para o colectivo, autocrático e tranquilo. Eis Hélder Postiga, um homem novo, na primeira grande entrevista desde que trocou o dragão por Alvalade

RECORD – Quer explicar-nos como aconteceu a transferência para o Sporting?
HÉLDER POSTIGA – O Sporting já tinha tido interesse. Este ano eu era uma aposta não só do treinador como da direcção e tinha a vantagem de estar no último ano de contrato, o que me permitia assinar por qualquer clube em Dezembro. Mas as negociações não foram fáceis. Nunca é fácil negociar entre clubes grandes. Ainda bem que tudo se resolveu. Estou muito feliz. Sair do FC Porto para o Sporting é sair de um grande para outro grande. Era isso que eu pretendia. Por outro lado, desejava mais estabilidade. Tenho 26 anos e posso jogar mais alguns anos ao mais alto nível. O Sporting pode oferecer-me isso tudo. Oferece estabilidade e permite lutar por títulos.

R – Esse namoro antigo de que falou data de quando?
HP – Aconteceu há uns dois anos. Lembro-me que se falou na troca de jogadores, mas o FC Porto nunca equacionou negociar.

R – Este ano chegou a alvitrar-se a hipótese de Vukcevic entrar no negócio…
HP – O que me interessava é que o Sporting resolvesse a questão e tivesse vantagem na contratação. Os contornos do negócio pouco me preocuparam. Sei que existia também o interesse do Panathinaikos e eu nunca – não faz parte do meu feitio – pressionei ninguém para sair ou vender. Deixei andar. Se o FC Porto decidiu negociar, foi porque não estava interessado na minha continuidade.

R – Quando estava com a Selecção em Óbidos já sabia que podia assinar?
HP – Sabia que as negociações com o Sporting não iam ser fáceis e nessa altura jogou-se a final da Taça entre os dois clubes. Nunca seria fácil nessa fase, mas o FC Porto não complicou muito as coisas. Foi bom.

R – Qual é a sensação de ter vindo para um dos maiores rivais do FC Porto?
HP – No início é um pouco estranho. Nunca me imaginei num clube rival, mas aos poucos as coisas vão-se ultrapassando. Está tudo a correr bem, as pessoas tratam-me bem e isso faz com que goste cada vez mais do Sporting.

R – Derlei disse que iria encontrar um balneário e um estilo de trabalho distintos daqueles que tinha no FC Porto. São diferentes em quê?
HP – São questões tão internas e específicas que é difícil explicar. Só vivendo por dentro. Os próprios directores fazem com que a mentalidade seja mais fechada ou mais aberta. Mas a mentalidade de vencer é a mesma.

R – As diferenças podem estar nas cidades, nos adeptos, em todo o envolvimento?
HP – Sim. Lisboa tem dois grandes clubes. No Porto, neste momento, há um e a cidade é do FC Porto. Do Boavista são cada vez menos, porque o clube está numa situação difícil.

R – Este contrato dá-lhe a tranquilidade necessária para relançar a carreira?
HP – Era disso que eu estava à procura. Não queria ser novamente emprestado. Já quando fui para a Grécia, tratou-se de uma situação de recurso. Ninguém gosta de andar a saltar de um sítio para o outro. Este contrato veio no momento certo para ter estabilidade não só a nível profissional como a nível emocional e familiar.

R – Voltou a sentir-se desejado?
HP – Também. É essencial para um jogador sentir-se bem e trabalhar com mais vontade.

R – Octávio, o treinador que o lançou, diz que você sentindo confiança mantém níveis altos e grande estabilidade. Foi essa confiança que veio encontrar?
HP – Sinto-me confiante. Há é momentos em que me retiram a confiança. Com isso é que não é fácil conviver.

R – Quem lhe retirou confiança?
HP – Algumas pessoas. Não digo que não me deixaram crescer, mas não me deram apoio quando mais precisava. Um desses momentos aconteceu na primeira época de Jesualdo Ferreira no FC Porto. A equipa estava a jogar bem e em 1.º lugar e de um momento para o outro fui preterido. Não se pode fazer uma análise por 2 ou 3 jogos e quando pensava que podia melhorar deixei de jogar.

R – Está magoado com Jesualdo Ferreira?
HP – Não sei se foi o Jesualdo a estar por detrás disso, mas é estranho que aconteça ao melhor marcador do campeonato. Caí de repente no esquecimento por não ter feito golos em 3 jogos seguidos.

R – Mourinho foi um dos que lhe retiraram confiança?
HP – Não. Se calhar até me deu confiança. Ajudou-me. Quando um jogador é jovem e tem uma ascensão rápida, sente-se perfeito. Eu pensava que não tinha erros. Não ouvia as pessoas e não corrigia determinados aspectos. Hoje tenho de ser sincero e reconhecer que errei, mas estou mais maduro. Ouço conselhos e sou mais ponderado nas decisões. Com a idade, aprendi a crescer e a ouvir

R – Quer dizer que esse problema está ultrapassado?
HP – Aprende-se com as experiências e essa com o Mourinho foi uma delas. Por outro lado, as pessoas não vivem sempre com o mesmo rótulo. O Hélder com 18 anos não é o mesmo aos 26. Tinha a fama de ser arrogante e vaidoso, mas as pessoas mudam. Hoje sou muito mais calmo. Sou pai e isso ajuda-me a ser mais ponderado nas decisões. Estou diferente.

R – Sente que já não tem a imagem do “menino mimado” e do “bom rebelde”?
HP – Esses foram os rótulos que tive todos estes anos. É complicado mudar uma imagem quando ela está instalada, mas as pessoas tentam melhorar e não podem viver sempre com o mesmo rótulo.

R – Está diferente como jogador, mais solidário com o colectivo?
HP – Quando se joga a alto nível, vai-se aprendendo e tentando guardar os aspectos positivos. Ser solidário é uma forma de estar bem integrado num grupo.

R – Como ponta-de-lança, qual a meta em termos de golos esta época?
HP – Um avançado vive de golos e quantos mais conseguir, melhor para si e para a equipa, mas o principal objectivo este ano é ver o Sporting campeão.

R – Ainda assim, precisou de poucos minutos para marcar...
HP – É bom para quem está a começar e precisa de confiança. Senti uma satisfação enorme.

R – A vontade de se fixar no onze é grande?
HP – Comecei mais tarde e havia uma estrutura definida do ano anterior. Não é fácil entrar no núcleo duro. Cabe-me ganhar espaço com calma. Fui submetido a uma operação. Tenho de pensar no trabalho passo a passo.

R – Partiu em desvantagem?
HP – Não me vou defender com esse argumento. Comecei com limitações, mas sei até onde posso ir.

R – Falando do ataque, sem Liedson, está a entender-se melhor com quem?
HP – Nem sempre temos a percepção lá dentro. Mas é normal que conheça um pouco mais do Derlei e saiba melhor o que pode sair dali.

R – A concorrência está a ser maior do que esperava?
HP – Não. O Sporting tem um plantel de 25 jogadores, quase todos internacionais ou de muita qualidade, o que ajuda o grupo e dificulta a tarefa do treinador. Agora vamos entrar num ciclo em que jogaremos domingo-quarta, com castigos e lesões, e haverá espaço para todos. O importante é estar ao melhor nível quando for chamado á competição.

R – Já estava à espera que Yannick explodisse?
HP – Não é surpresa. Nem ele nem outros. O único do plantel que não conhecia e surpreendeu-me pela positiva foi o Carriço. Dentro de poucos anos será dos melhores centrais do futebol português. O miúdo é bom.

R – Têm boa relação?
HP – Ele jogou no Chipre e diz algumas palavras em grego. É natural que às vezes possa estar na palhaçada com ele [risos].

R – Nos treinos, é descontraído e percebe-se que gosta de trocar “galhardetes” com os companheiros de equipa, como Tonel. Já se sente em casa?
HP – Faz parte da minha maneira de ser. Gosto de deixar as pessoas à-vontade. É saudável. Fui criado assim. Depois, há jogadores com quem temos mais confiança para “pegar”. Como já conhecia o Tonel, porque joguei com ele quando éramos miúdos, tenho mais confiança com ele.

R – Com quem partilha quarto nos estágios?
HP – Varia. Na Academia é com o Caneira.

R – Paulinho já é um aliado e amigo. Ele é peça importante no grupo?
HP – Sim, pelo ambiente e pela alegria que traz para dentro do balneário. Às vezes é importante, porque não acordamos bem dispostos todos os dias.

«Sou leão»

R – O golo de Braga foi especial e dedicou-o ao seu pai. Porquê?
HP – Tinha-lhe dito que ia marcar um golo para lhe oferecer no dia de aniversário. Os meus pais têm sido muito importantes e sou muito próximo deles. Foi uma forma de agradecer os bons e maus momentos que têm passado comigo.

R – Há sportinguistas lá em casa?
HP – Tenho um irmão que é um troca-tintas. Ele cresceu e eu pertencia às camadas jovens do FC Porto. Agora que estou no Sporting, já é sportinguista.

R – É verdade que você era benfiquista em pequeno?
HP – Numa família de benfiquistas, é normal que tenha seguido os passos. Depois, fui muito novo para o FC Porto e aprendi a gostar do FC Porto. Mas o meu clube de sempre é o Varzim, é o único de que sou sócio. Neste momento, sou do Sporting e do Varzim. Gosto mais do Sporting a cada dia que passa.

R – Já se sente sportinguista?
HP – Sou leão. E sou de signo Leão.

R – Que opinião tem de Filipe Soares Franco, Miguel Ribeiro Teles e Pedro Barbosa?
HP – Soares Franco está sempre presente, nos bons e nos maus momentos, e considero isso importante. Não se deve aparecer só ou quando a equipa está mal ou quando está bem. O mesmo acontece com Ribeiro Teles e Pedro Barbosa. Também estão sempre presentes e têm uma ligação muito forte ao balneário e aos jogadores.

R – Em Braga, comemorou o golo com Pedro Barbosa…
HP – É uma pessoa de quem eu me sinto próximo. Tenho uma relação próxima com ele. Foi importante na minha vinda para o Sporting. Foi o primeiro a falar comigo sobre essa hipótese.

R – Depois de 2 meses e meio de trabalho com Paulo Bento, que impressão tem do treinador?
HP – É uma pessoa muito directa, que tem os seus métodos de trabalho e é muito frontal naquilo que pensa e quer. E isso é uma base para se ter sucesso. Ele fez questão de estar na minha apresentação. A atitude, não só dele como de outros, foi importante. Senti que fizeram um esforço porque queriam estar presentes. E quando se chega a um clube é importante conhecer as pessoas e sentirmo-nos integrados.

R – Como acompanhou o caso espoletado pelo facto de João Moutinho ter dito que pretendia abandonar o Sporting?
HP – Se ele afirmou isso, se era o que ele pensava no momento, depois também já disse o contrário, ou seja, que está de alma e coração no Sporting. Devemos pedir responsabilidade ao jogador, mas ao mesmo tempo pensar nele. Foi um acto que não aconteceu no timing certo, mas já está tudo sanado.

R – Caneira disse que esse episódio abalou o balneário. Também sentiu isso?
HP – Quando surgem situações dessas, é normal que sejam comentadas. Nem que se ouça falar baixinho, acaba-se por pensar: “De certeza que está a falar daquilo”. Percebe-se sempre um burburinho. No futebol, é normal sentirem-se … vibrações [risos].

R – Acha que era possível um capitão do FC Porto ter a mesma atitude?
HP – Não quero responder a essa pergunta.

R – Quem geriu melhor as situações: o Sporting, com Moutinho, ou o FC Porto, com Quaresma?
HP – Geriu melhor o Sporting, porque ficou com Moutinho.

R – Detendo-nos no Sporting, como classifica o balneário e o ambiente no grupo?
HP – Tem sido fantástico. O balneário quando se ganha é sempre fantástico [risos]. Mas é essa a minha impressão. Há uma mescla de jogadores mais experientes com jovens formados na Academia. O segredo de um grupo é encontrar jogadores que tenham o mesmo objectivo e remem para o mesmo sítio. No Sporting, o que encontro é isso. As pessoas querem todas o mesmo objectivo, querem ter sucesso, querem que o Sporting seja campeão. É dos melhores da minha carreira. Na época da vitória na Taça UEFA, no FC Porto, também tínhamos um balneário fantástico. O que vim encontrar aqui faz-me lembrar um pouco do espírito que vivíamos no FC Porto.

R – Pela negativa, o jogo de Madrid foi o primeiro grande teste ao balneário?
HP – É uma lição para todos. Para quem jogou e para quem não jogou. Estávamos galvanizados e quando as coisas correm bem é normal que se encha um pouco mais o peito. Mas isso fez-nos cair na realidade e pensar que se calhar não somos tão bons e também cometemos erros. Estas derrotas ajudam-nos a crescer. Até podemos pensar que estamos bem e que vai ser difícil ganhar-nos, mas se não entrarmos com seriedade, se não tivermos vontade de vencer, é natural que haja mais desaires desses.

R – Madrid pretendia antecipar os ciclos de 2 jogos por semana e o primeiro começa em Barcelona; na Liga, seguem-se Belenenses, Benfica e FC Porto. A equipa está preparada?
HP – É um ciclo difícil mas bom. Complicado porque vai colocar-nos à prova e exigir do grupo uma mentalidade forte. Bom porque, sem tirar valor aos restantes, os jogos da Champions e os dérbis são aqueles em que todos gostam de participar.

R – Estes jogos com o Barcelona e o Benfica podem ser decisivos no sentido de embalar a equipa para uma época muito boa?
HP – Não se pode resumir uma época de 50 jogos a 2. Não se pode fazer esse tipo de juízos ou avaliações em Setembro. Eu acredito que os adversários partilhem do pensamento que o Sporting está forte, porque têmo-lo demonstrado em campo. Não é só de boca, como dizem alguns; estamos fortes. Mas não vamos resolver a época em 2 jogos.

R – Deixou perceber que o Sporting, por ter conquistado a Supertaça, era o mais forte candidato ao título. É assim?
HP – Não é o mais forte. Os candidatos são três. O que me perguntaram foi se o Sporting era um sério candidato. Ora, se o campeão foi o FC Porto e se nós ganhámos ao campeão na Supertaça, parece-me que temos um pouco mais de percentagem…

R – Pela sua experiência, o que é preciso para se ser campeão?
HP – Como disse, é importante ter bom balneário. Não é fácil ter um grupo de 20 e tal jogadores, onde há 11 felizes, 7 mais ou menos e o resto está com azia. É complicado. Saber gerir um grupo não é assim tão fácil e isso faz com que um dos ingredientes para o título seja esse. Depois, há que ganhar jogos e ter estabilidade durante o campeonato.

R – Qual é o adversário que mais teme, Benfica ou FC Porto?
HP – Por vezes somos nós próprios o nosso pior adversário, porque temos de lutar contra as nossas adversidades. Estão os dois muito fortes, mas quando menos esperamos o perigo está lá e perdemos pontos contra quem não imaginávamos.


RECORD – Yannick mereceu a chamada à Selecção?
HÉLDER POSTIGA – Mereceu. Pelo que fez na Supertaça e pelo nível que tem exibido. Dei-lhe os parabéns.

R – Desiludiu-o o facto de não ter sido convocado nestes primeiros jogos?
HP – Não. O meu objectivo é estar bem no clube. Quero ajudar a equipa, conquistar o meu espaço e crescer como jogador. Para o seleccionador, os jogadores que ele convocou são os melhores de Portugal e os que lhe dão mais garantias. Cabe-me trabalhar para modificar essa opinião. Não vou ficar revoltado, porque respeito as decisões.

R – A Selecção está num segundo plano?
HP – Neste momento está. Tenho a minha cabeça apenas no Sporting.

R – Mas pensa estar presente no Mundial?
HP – Seria hipócrita se dissesse que não gostava de jogar a Champions para o ano ou não estar numa grande competição.

R – Também sem hipocrisias, sente que tem lugar nesta Selecção?
HP – Neste momento?

R – Sim.
HP – Neste momento acho que preciso de estar melhor a todos os níveis. Preciso de estar bem para ter o meu espaço no Sporting.

R – Que opinião tem de Carlos Queiroz?
HP – Fez bom trabalho nos Sub-20 e com a chamada “Geração de Ouro”. As referências dele são as melhores.

R – E Scolari? Deixa saudades, a si e ao futebol português?
HP – A mim deixa, porque me ajudou imenso. Estaria a mentir se dissesse o contrário. Conseguiu coisas fantásticas para Portugal. Ajudou-nos imenso a crescer no futebol.

«Estava ‘morto’ no FC Porto»

R – O que pensa ter falhado nas suas passagens pelo estrangeiro?
HP – Não considero que tenha falhado no Saint-Etienne e no Panathinaikos. Foram campanhas de recurso. Estava ‘morto’ aqui, no FC Porto. Estive um ano no Saint-Etienne. Depois, cheguei como jogador-chave, com Adriaanse, mas passado uns meses estava na equipa B. No Panathinaikos, a mesma coisa. Mas queriam que eu continuasse e as coisas correram bem. Só no Tottenham, quando tinha 20 anos, é que posso ter falhado, mas lembro que o treinador, Glenn Hoddle, saiu à 6.ª jornada, e foi ele que deu o aval para a minha contratação. David Platt, que o substituiu, era contra as aquisições que ele tinha promovido. Todos os jogadores que estavam nessas circunstâncias, como Kanouté, Dalmat, etc, tinham tratamento diferente.

R – Sente vontade de regressar um dia ao estrangeiro?
HP – No futebol não se sabe o que vai ser o dia de amanhã. Acredito que um dia ainda possa lá voltar. Não é um objectivo. Se estiver feliz num clube, não vou mudar. Se continuar feliz como estou no Sporting neste momento, quero é ficar aqui por muitos anos e ganhar títulos.

«Se há coisa que não gosto de comentar é a arbitragem»

R – O Sporting tem sido crítico com a arbitragem. Tem razões de queixa?
HP – Se há coisa que não gosto de comentar é a arbitragem. Todos erramos. Mas não é fácil estar dentro de campo e acontecer um caso como aquele do Polga, no jogo com o Trofense. Como jogador, fico revoltado. Depois, mais a frio, tem de se pensar que o árbitro não fez por mal. É isso que quero pensar. Temos de ser mais frios na análise aos árbitros.

R – Sente que existe hostilidade com o Sporting? Há diferenças, por exemplo, em relação ao FC Porto?
HP – Não. Acho que nenhum árbitro tem esse tratamento diferenciado. Podem é simpatizar mais com um jogador ou com outro.

«Há quem não me possa ver nem pintado de ouro»

R – Um jogador vive do carinho dos adeptos?
HP – Quando se vai ao teatro e não se aplaude o actor, ele fica a pensar que não vale nada. Passa-se o mesmo com um jogador, se vai ao estádio e não recebe aplausos, se não sente o incentivo e o carinho das pessoas. Quem disser o contrário está a mentir.

R – E como é o público do “teatro” de Alvalade?
HP – Até agora não tenho motivos de queixa. A acústica do estádio também é boa [risos]...

R – Como pensa que vai ser recebido pelos adeptos do FC Porto quando jogar no Dragão?
HP – Não faço a mínima ideia. Sei que há muitas pessoas do FC Porto que gostam de mim, disso não duvido. Mas também sei que há outras que me detestam. Há gente que não me pode ver nem pintado de ouro. São os que me chamam arrogante e vaidoso.

«Quando posso ainda vou à pesca»

R – O seu irmão José já fez férias na Academia. O Sporting é o clube ideal para ele?
HP – Penso que sim. A Academia tem excelentes condições para os miúdos. Já lhe dei conselhos e disse-lhe que esta vida não é fácil. Eu tive a sorte de me tornar profissional de futebol, mas vivi para ele entre os 12 e os 18 anos. Não saía ao sábado à noite, fui perdendo os meus amigos de Vila do Conde, perdi muitas vezes a presença dos meus pais para oferecer tudo ao futebol.

R – Teve de deixar de estudar?
HP – Aos 15 anos. Não conseguia conciliar os estudos com o futebol. Nesse ano reprovei por faltas, porque estive num Campeonato da Europa de Sub-16 na República Checa. Estava no 10.º ano. Ajudava o meu pai durante o dia e à noite ia treinar.

R – O que recorda dos tempos em que ajudava o seu pai na faina?
HP – Ajudava-o lá nas redes do armazém e depois ia treinar. Tenho saudades desses tempos, porque adoro o mar, a pesca e vivia tudo isso com muita intensidade.

R – A pesca é ainda um passatempo?
HP – Adoro pesca de mar e quando posso aproveito. Se não fosse futebolista, o mais certo era ser pescador. Numa família e numa cidade de pescadores, não há muitas outras opções.

R – Conta-se que um dia apanhou com o seu pai mil cabazes de sardinha. É verdade?
HP – Lembro-me que tinha uns 7 anos. Fui para o mar com o meu pai e passámos um daqueles dias memoráveis. Enchemos o barco de sardinhas.

«Admiro Michael Jordan»

Tatuagens. “Tenho. De pessoas de quem gosto muito.”

Fé. “Benzo-me antes dos jogos. Sou cristão.”

Número 23. “Para mim, é mágico. Era o mesmo de Michael Jordan [ex-basquetebolista, da NBA]. Admiro-o. Ele é, se não o melhor, um dos melhores desportistas de sempre.”

Ídolo. “Van Basten. Nele, admirava tudo. A elegância… Não mudava nem as unhas.”

Referência. “Ibrahimovic roça a perfeição, é fantástico. Considero-o muito parecido com Van Basten.”

“O Carteiro”. “No Tottenham tinha essa alcunha [Postman] porque na pré-época fui o melhor marcador e fiz várias assistências.”

Apito Final. “Não percebo nada disso.”

Penálti “à Panenka”. “Se repetia? É melhor não dizer nada porque podem ficar atentos.”

Cidade. Vila do Conde

País. Portugal

Destino de férias. Grécia

Comida. Tripas, bacalhau, rojões, cozido... “Sou bom garfo e no Norte come-se muito bem. É o único senão de Lisboa.”

Bebida. Água mineral sem gás

Outros desportos. Ténis

Carro. Mercedes SL

Jornais. “Se os tiver na Academia, leio. As notas negativas? Já liguei mais. Há muitos interesses por detrás disso.”

Filmes. Cinderella Man e Em Busca da Felicidade

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